domingo, 20 de maio de 2012

42

Artur Dente acordou naquela manhã com uma dorzinha chata do lado esquerdo da cabeça. Depois de rolar de um lado para o outro da cama por um bom tempo, decidiu parar de fingir para si mesmo que ainda estava dormindo e se levantar. Jogou as pernas para fora da cama, na esperança de que elas fossem sozinhas resolver os problemas daquele dia e deixá-lo hibernar. Ao enfim convencer-se de que não teria sucesso, enfiou os pés nos chinelos felpudos, vestiu a primeira peça de roupa que encontrou pela frente - um roupão verde-musgo jogado sobre a cadeira ao lado da cama - e se arrastou para o banheiro.

Ao se olhar no espelho, confirmou suas suspeitas: estava um bagaço. O cabelo levemente arruivado parecia haver pensado ser uma boa idéia dar uma festa durante a noite e convidar todos os fios para dançarem na mesma pista de música eletrônica. Lavando o rosto, Artur Dente desconfiou que sua baba também tivesse sido convidada para a festa.

Após considerar a hipótese de tomar um banho, Artur Dente lembrou-se de que era domingo e, como é sabido em todas as galáxias conhecidas, domingo é o dia oficial em que nada acontece e, portanto, não havia razão alguma para tomar um banho. Enxugou o rosto na toalha mais próxima e saiu do banheiro.

A dorzinha chata do lado esquerdo da cabeça continuava. Era a última vez, pensou, que sairia com aquele ator maluco que só o arrastava para lugares cheios de bebidas com alto ou altíssimo teor alcoólico. Seu organismo não fora criado para aquilo, pensava. Tudo o que Artur Dente mais queria naquele momento era uma boa xícara de chá.

Remexendo a terceira gaveta debaixo da pia da cozinha em busca de uma aspirina, um remédio para ressaca ou um vidro de veneno de rato - o que encontrasse primeiro -, Artur Dente pôs a água do chá para ferver.

De dentro do quarto veio uma voz estridente e manhosa. Sem conseguir encontrar a maldita aspirina, Artur Dente praguejou enquanto fechava a gaveta e abria a geladeira. Apenas um pote velho de manteiga, uma caixa de leite e uma bandeja quase inteira de iogurte passado da validade que Artur Dente comprara em um daqueles momentos em que decidia mudar de vida e começar a ter hábitos saudáveis. Pegou a caixa de leite e fechou a geladeira.

"Aqui, Marvin. Seu café da manhã.", disse Artur Dente. De dentro do quarto veio novamente a voz estridente e manhosa. Em poucos segundos, Marvin, o gato, saía do quarto e cheirava seu pote cheio de leite, pensando há quantos dias aquela caixa estaria aberta. 

A chaleira apitou no fogão, avisando que a água fervera. Artur Dente colocou um daqueles saquinhos dentro de uma xícara e serviu a água quente em cima. Agora só precisaria esperar alguns minutos enquanto fazia de conta que lia o jornal roubado do gramado do vizinho no dia anterior.

Antes que o chá pudesse ficar pronto, no entanto, a Terra foi destruída pelos Vogons para a construção de uma via espacial e Artur Dente não teve tempo de provar um dos 42 deliciosos sabores de chá que sua tia havia trazido de sua última viagem para a Inglaterra.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Interrompendo a Programação

Certo, certo. Vamos encarar os fatos: eu demorei demais para postar, as histórias da viagem esfriaram e mais da metade dos meus leitores partiram para outras bandas. Para quê continuar fazendo de conta, então, que eu vou seguir religiosamente a programação do Diário de Bordo?

Não que eu não vá falar mais nada sobre a viagem. Ainda tenho partes de posts prontos que pretendo colocar no ar. Mas quero me libertar - eu, você e este promissorzinho blog - da obrigação de só voltar a escrever sobre o que me der na telha quando terminar os relatos da viagem.

Há muito a ser falado. Há contos a serem escritos. Histórias reais e outras nem tanto assim a ser postadas. E - por que não? - ainda há mais relatos da viagem a serem contados. Estou apenas, com este post, me liberando para escrever sobre o que eu quiser.

Minhas mais recentes aquisições.
Sem promessas de posts diários, semanais ou até mensais. Tentarei manter uma certa freqüência, mas ela será determinada exclusivamente pela minha vontade. Este blog, tal como os pincéis, as tintas e as telas em branco que comprei no último fim de semana, é algo que faço por prazer e não por obrigação. Sempre tive problemas com fazer coisas por obrigação. Nem ler os livros obrigatórios para a escola eu - que adoro ler - lia, pelo simples fato de serem obrigatórios. Não que eu tenha problemas com autoridade. Apenas não me agrada transformar prazer em dever.

E aos meus leitores que ainda estiverem passando por aqui e sentirem falta de atualizações, recomendo o blog da Karol, Manskaoosin. Aproveitem porque ela está postando como se não houvesse amanhã nestes últimos dias.

Continuem ligados. Para receber notícias sobre atualizações, curtam minha página no Facebook. Assim que houver posts novos, avisarei por lá.